CBIC espera resultado positivo já no início do ano, mas o Sinduscon-SP é mais cauteloso, em função da base menor de comparação. Em três anos, o setor encerrou mais de 1 milhão de vagas
São Paulo – Depois de perder mais de um milhão de postos de trabalho, o mercado da construção civil pode começar a apresentar saldos positivos consistentes no indicador de emprego em 2018, mesmo que de forma tímida. Especialistas, contudo, divergem sobre o momento em que isso deve acontecer.
“Ainda não vemos um cenário de recuperação, mas as recentes sondagens da indústria da construção mostram perspectivas positivas para 2018 [de nível de atividade e emprego]”, explica o assessor econômico da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Luis Fernando de Melo Mendes.
Segundo o economista, no acumulado de 2017 o saldo de empregos ainda deve apresentar um resultado negativo, contudo, com as expectativas melhores é possível que o setor já comece a apresentar saldos de contratações positivos no primeiro trimestre de 2018. “Mesmo que existam incertezas políticas e econômicas, as sondagens mostram que o empresário já espera por uma melhora em curto prazo”, diz.
Somado a isso, Mendes ressalta que com a melhora das projeções de inflação, taxa de juros e renda, os financiamentos imobiliários para imóveis de médio e alto padrão devem voltar a ficar atraentes tanto para quem quer trocar de imóvel quanto investidores.
A retomada
Já na opinião do presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), José Romeu Ferraz Neto, ainda é cedo para comemorar se levarmos em consideração a base de comparação. “Podemos começar a ver saldo positivo, mas [na crise] perdemos um terço da mão de obra direta, então deverão ser níveis muito baixos”, aponta o executivo. No total, o setor perdeu mais de um milhão de vagas desde outubro de 2014, quando possuia 3,522 milhões de empregados. Em julho deste ano, a construção totalizou 2,458 milhões.
De acordo com ele, no período de seis meses a um ano, é possível que o setor ainda deva apresentar demissões pontuais. “Não da forma acentuada como tínhamos visto, mas haverá casos. Lamentavelmente ainda deveremos conviver com isso”, afirma.
Na opinião do executivo, é provável que uma retomada mais significativa do emprego fique mais para o final de 2018, se ocorrer. “Já vemos sinais [de melhora econômica] de forma lenta e isso ajuda o mercado imobiliário tanto comercial quanto residencial, mas acho que isso vai se sentir no médio prazo. No curto prazo a expectativa ainda é ruim”, destaca.
Segundo Ferraz, o segmento de infraestrutura deve provocar um aumento robusto nas contratações, contudo, a expectativa dele é que o impacto seja sentido no longo prazo. “Se houver, o setor da construção cresce muito rápido, até pela defasagem que o País tem, mas as concessões e PPPs devem ser sustentados por investimento estrangeiro, mas esse recurso só vem quando tivermos estabilidade política”, diz.
De acordo com o SindusCon-SP, pela primeira vez depois de 33 meses de queda consecutivas, o nível de emprego na construção civil brasileira voltou a subir. Em julho, houve alta de 0,07% na comparação com junho.
Desafio
Apesar de um prognóstico mais positivo, Mendes, do CBIC, aponta um fator deixa nebulosa a projeção: a aprovação do projeto de lei que permite o saque do FGTS para amortização ou quitação do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). “Como a única saída que sobrou é o FGTS, se tirar pode desestruturar a construção”, explica o assessor.
Vivian Ito
Fonte: DCI